sexta-feira, 27 de junho de 2014

Os Adeptos (Com e Sem Paixão)

Acho piada à forma como certas pessoas vêem o futebol. E não estou a ser irónico: acho mesmo. Vou ser mais específico: refiro-me àquelas pessoas que lhe dão pouca importância. Seja o Sporting, o Porto ou o Benfica, ou seja a Selecção Nacional que esteja a jogar, existe quem consiga conceber o futebol sem o lado da paixão. São aquelas pessoas que, quando pontualmente se sentam ao nosso lado a espreitar um jogo (essas pessoas não vêem jogos: espreitam-nos), ou falam de bola socialmente à mesa do café, para entrarem nas conversas fazem os comentários clichê do género:

"Só fazem isto da vida e nem na baliza acertam.."
"É fora-de-jogo porquê..?"
"Jogaram bem.. mas tiveram azar.."

O adepto com paixão facilmente substituíria estas três frases pelas equivalentes:

"F*da-se, pane*eiro do c*ralh*, nem na p*ta da baliza acerta!!!"
"Aquele boi de mer*a 'tá sempre à mama!" 
"Não jogaram a ponta d'um c*ralh*! E o árbitro roubou-nos!".

Mas o adepto que vê o jogo sem o lado romântico, não. É diferente. Para estas pessoas não há a táctica nem a técnica. Não há o 4-4-2 nem o 4-3-3. Não há defesas, médios, nem avançados. Não há falhas de marcação nem dobras. Existem, apenas e só, 22 indivíduos num campo de futebol aos pontapés a uma bola.
Estes são os adeptos que, mesmo sabendo que o desfecho dos jogos de ontem não foi o desejável para Portugal, hoje foram trabalhar exactamente com a mesma cara de todos os dias, independentemente de a Selecção Nacional ter sido eliminada do Mundial 2014.
O adepto da paixão não. O adepto "do cachecol e da bandeira" está de trombas! Está com azia! Queria ter tido um pretexto para virar umas imperiais depois do jogo, e teve de ficar em casa a ver a telenovela da TVI com a mulher! O adepto da paixão hoje não vai querer ler jornais desportivos, nem ver na televisão pseudo-especialistas a analisarem o jogo ao pormenor, para perceberem onde é que a Selecção falhou! O adepto da paixão está lixado! Está fodido! 
Já o adepto sem paixão reage como eu reagiria numa exposição do Picasso: entrava no museu (a sala), olhava para o quadro (a televisão), e dizia algo do tipo "Gosto muito das cores..!" (o clichê). E depois saía do museu e retomava a minha vidinha. Com a mesma cara de todos os dias.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A Miúda da Nespresso

Hoje foi a primeira vez que me envolvi sentimentalmente com sushi. Foi a primeira vez que experimentei sushi à séria. Já tinha dado uma rapidinha com um rolo num restaurante japonês nas Amoreiras, mas na altura jurei para nunca mais. Hoje, quase ano e meio depois, apareceram-me oito rolos de sushi diferentes em casa. E comi. Devagarinho. Um bocadinho de cada um. Com aquele molho esquisito cujo nome não me recordo, mas que se assemelha a um grito de guerra do Bruce Lee.
Mas a verdade é que me sinto uma besta, porque simplesmente os comi. Ser apreciador de sushi é muito mais do que enfiar os rolos pela goela abaixo: é observá-los, tirar-lhes fotografias para espalhar pelas redes sociais, e depois então comê-los, lentamente, para saborear cada bocadinho.
No fundo podia estabelecer um paralelismo entre comer sushi, e a minha ida hoje à loja da Nespresso. Fui lá para comprar uma ou duas chávenas, mas fui atendido por uma menina tão jeitosa, que acabei por trazer um conjunto de quatro que me custou o triplo do que pensava gastar. Acho que se em vez das chávenas ela me tivesse tentado vender droga, um vale de desconto em cremes depilatórios, ou um T6 na Buraca, eu teria comprado. É que enquanto ela falava, eu nem a ouvia, limitando-me a olhar para ela como um apreciador de sushi olha para um rolo: observava-a, apetecia-me tirar fotos com ela para meter nas redes sociais, para depois então comê-la, lentamente, para sab... ok, acho que já perceberam.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Rebranding

Tenho andado com excesso de coisas para fazer. Aliado ao trabalho, o facto de fazer questão de deitar o olho a quase todos os jogos do Mundial - estou neste momento a preparar-me para devorar um apaixonante Honduras vs Equador - também tem contribuído para que a frequência com que tenho actualizado o blog seja mais reduzida. É também por falta de tempo que continuo solteiro. Apesar de ser um espectáculo de gajo, esteticamente bastante agradável à vista, a verdade é que o mais próximo de uma vida romântica que tenho neste momento, são aqueles dois minutos do meu dia em que vou ao Instagram ver as fotos da namorada do Ronaldo (estou a falar da Irina, não é do Jorge Mendes) e da Sara Sampaio.
Ando a pensar fazer um "rebrand" à página de Facebook do Blog. Inicialmente a minha ideia era apenas partilhar lá os textos que escrevo aqui, mas a verdade é que a página acabou por seguir outro rumo, fruto de a minha cabeça estar permanentemente a pensar em merda. Nesse sentido, agora parece-me um bocado estúpido a página chamar-se "Quimera The Blog". E como vocês são pessoas fixes, bonitas e criativas, pensei em pedir-vos sugestões de nomes. Têm? Não, não lhe vou chamar "Mimikas", nem vos vou dar 50€ pelo serviço de consultoria. 
E pronto, agora vou ali torcer pelas Honduras, que apostei 1€ em como ganhavam o Mundial. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Deus Nosso Senhor e os arredondamentos

A minha experiência de vida leva-me a crer que sou um anti-fashion blogger. Não quero com isto dizer que não gostasse de dançar samba na horizontal com algumas fashion bloggers da nossa praça, até porque as há por aí bem fofinhas. Aliás, das primeiras coisas que reparo numa gaja é a forma como se veste. Mas detesto fazer compras, detesto saldos, detesto lojas, e detesto modas.
No Domingo fui comprar uns sapatos. Sou esquisito para burro, pelo que no total de três sapatarias que visitei, só vi uns sapatos de que gostasse minimamente. Pedi para experimentar o 43, que constatei que me ficava apertado. Depois pedi o 44, e ficava-me largo. Não é a primeira vez, nem a segunda, que me acontece: foi a terceira. Está cientificamente comprovado que o meu número deve ser o 43,5.
Quando tirei pela última vez Bilhete de Identidade, media 1,83m. Posteriormente, quando tirei o Cartão de Cidadão, e embora não estivesse já em fase de crescimento, media 1,84m. Ora, isto faz-me acreditar que a minha altura real deve ser de 1,835m.
Com isto chego à brilhante conclusão de que Deus me fez com a máxima precisão possível. Ao milímetro. Mas se por um lado soube ser tão meticuloso na altura de esboçar os contornos dos meus pés e da minha altura, a verdade é que quando foi para fazer outras partes do meu corpo, ele não teve mãos a medir na hora de me dotar. Foi tudo à grande e à francesa.

                                                          #PublicidadeEnganosa    

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dar pérolas a porcos

Porquê este título no post, perguntam vocês.
Primeiro que tudo, porque é estúpido em si mesmo. Ninguém dá pérolas a porcos. Seria estúpido abordar um leitão para lhe dizer que lhe vamos enfiar um espeto de ferro do cu à boca, mas que lhe compramos um colarzinho de pérolas para atenuar o sofrimento, e para que fique mais bonito enquanto está a dar voltas a assar. A única forma de um porco ter em sua posse uma pérola, é se entrar por uma marisqueira a dentro e desatar a mamar ostras de empreitada. E mesmo assim não é certo que aconteça. Mas pronto, já me perdi. 
Este título vem a propósito do (suposto?) cancelamento do programa "Melhor do que Falecer", da TVI. Eu confesso que não sou particular entusiasta de tudo o que o Ricardo Araújo Pereira faz (e diz), mas a verdade é que meter um programa dele no horário nobre de um canal em que o público-alvo está habituado ao humor "Batanete" e do "Prédio do Vasco", é em si mesmo "dar pérolas a porcos". 
Quem segue com relativa proximidade o trabalho do RAP, facilmente percebe que o MQF surgiu quando se introduziu numa Bimby um bocadinho de "Gato Fedorento" e um bocadinho de "Mixórdia de Temáticas", se seleccionou 5 minutos/Varoma/Velocidade 3, e voilá.
Por isso, não era necessário ser um génio para perceber que a equação "Público do Gato Fedorento + Público das Manhãs da Comercial  Público que está à espera das Telenovelas da TVI."
Imaginem uma senhora de 80 anos, numa aldeia do interior, a ver pessoas a atirarem-se de cima de um prédio no episódio piloto, ou a ouvir a teoria de que deveria ser construída uma via para ciclopes (ciclopevia) em Lisboa, quando a única coisa que lhe interessa saber é se o Padre da "Belmonte" vai abandonar a paróquia por amor a uma miúda de 25 anos.

Portfólio

Há dias, em conversa com um amigo, este sugeria-me que criasse um portfólio com os textos que já escrevi nos blogs por onde passei. Segundo ele, este facto poderia jogar a meu favor quando, no futuro, me candidatasse a determinadas ofertas de emprego, nomeadamente na área da Comunicação. Ora, o que se depreende daqui é que até os meus melhores amigos me desejam ver ser enxovalhado. Imaginar o cenário de comparecer numa entrevista de emprego, com um portfólio de textos sobre os cascos da égua minha vizinha de cima, ou sobre recolhas de tampinhas para pôr uma banda gástrica na Adele, é coisa para me fazer corar mais, do que imaginar a Sara Sampaio a pedir-me para lhe passar protector solar nas nádegas, numa praia de Miami. Por norma não vou nervoso para entrevistas de emprego, mas a ideia de entrar num gabinete, com três anos de baboseiras metidos num portfólio, e esperar que me ofereçam um salário ao fim do mês por causa disso, é um optimismo semelhante ao de 90% dos jovens que compram preservativos antes de irem para a viagem de finalistas, e que acabam a estadia em Lloret del Mar a utilizá-los como balões de água que atiram da varanda do Hotel.
Resumindo e baralhando, mais depressa aparecia numa entrevista de emprego vestido com uma lingerie da Victoria's Secret, ou com um vestido do guarda-fatos da Joana Vasconcelos, do que com os textos que já escrevi debaixo do braço, sob forma de auto-atestado de estupidez. Acho que a vergonha seria menor.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Viagens de Comboio

Andar de comboio é sempre uma experiência fascinante. Então as viagens de Regional, que pára em todas as estações e apeadeiros, é capaz de ser uma experiência mais aterrorizadora do que ouvir um CD da Mafalda Veiga do princípio ao fim. Desde gramar com uma carruagem cheia de escuteiros aos berros, a indivíduos que se barricam na casa de banho do comboio para não pagarem bilhete, a gente que tenta parar o comboio de peito (sem sucesso), a tunas em que o grau de alcoolemia dos seus membros é coisinha para fazer inveja ao Jorge Palma num concerto, já apanhei de tudo. Mas nas viagens de comboio existem dois tipos de personagens que me fascinam particularmente.
O primeiro tipo são os pica-bilhetes. Não, não lhes chamo "revisores". Se os homens do lixo não são "colectores de resíduos" e se as prostitutas não são "profissionais da indústria sexual", também não vou dobrar a língua para falar destes senhores que - sem querer ferir susceptibilidades - têm um trabalho menos nobre que o dos homens do lixo. Que o das prostitutas já é mais discutível. Eu gosto do trabalho delas. 
Acho que os pica-bilhetes só deviam trabalhar três ou quatro horas por dia, como os controladores de tráfego aéreo. É que aquilo além de ser uma profissão que exige um elevado grau de concentração, é igualmente uma profissão de desgaste rápido. Entre calos nas mãos de picar tanto bilhete, a calos nos pés de tanto palmilharem as carruagens, e a calos nos tomates de tanto os coçarem, os picas deviam ter mais regalias. E ganhar mais. E ter uma comparticipação especial, ao nível do Serviço Nacional de Saúde, em todas as especialidades que tratem calos.
O segundo tipo de personagens que me fascina, são aquelas idosas que fazem bordado em ponto cruz. Como é que alguém com 115 anos, com 23 dioptrias em cada olho, que muitas das vezes só consegue reconhecer os familiares à apalpadela, e que treme mais do que o Cardozo a marcar um pénalti, consegue fazer aqueles bordados nos naperons, cheios de pormenores microscópicos, com o comboio em movimento? 

Pensem nisso.
* Texto retirado do Blog antigo.